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UM DIÁLOGO SOBRE A SÍNDROME DA IMPOSTORA E QUESTÕES RACIAIS - POR JULIANA RIBEIRO

Atualizado: 4 de abr. de 2021

E

stamos no mês de março, mês dedicado às mulheres. Descobri que março era uma falácia de discursos quando me entendi que, como mulher branca, tudo era sobre mim. Ao passar a estudar mais sobre gênero e raça eu entendi que o dia das mulheres e todos aqueles discursos sobre feminismo (aquele que aparece nos comerciais de shampoo para ver se você compra), falavam apenas sobre essa mulher branca, que possui todas as facilidades que a branquitude pode proporcionar.


Nesse caminhar, descobri que alguns nomes aparecem com uma certa frequência nesses discursos. Ao estudar sobre o que a Natália Bovolenta (dona dessa empresa e desse mundão também!) me pediu, vi que a Síndrome da Impostora aparece muito em narrativas eurocêntricas. Cheguei a falar no Canto Baobá Psicologia sobre isso (e você pode conferir clicando aqui), e aqui na Wilifa, estou me propondo a olhar para a Síndrome da Impostora interseccionando as questões raciais.


Mas primeiro, o que seria essa tal síndrome da impostora?


A Síndrome da Impostora afeta principalmente as mulheres. Por mais que não seja classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde, quem possui essa síndrome não consegue reconhecer suas conquistas e sucesso profissional. Sendo assim, a mulher passa a achar que seu cargo, seu próprio negócio, habilidades e competências são frutos de muita sorte. Ou de um grande acaso. Ou de muita ajuda de outras pessoas.


Mas nunca dela mesma.


E esse sentimento de não merecimento de suas próprias conquistas acarreta em diversos outros problemas: é falta de autoconfiança, é auto sabotagem, autocrítica exagerada, medo de ser exposta e "todes saberem a verdade", procrastinação e a grande pergunta que gira em torno de tudo isso é: eu sou de fato uma fraude?


Já respondo de antemão que não. Historicamente, a mulher sempre foi colocada no lugar de submissa. Lhe tirando o direito ao estudo, ao voto, ao prazer e à própria liberdade. Sempre sujeitada a se calar e a corresponder a um local de objeto. Meu objetivo aqui não é voltar atrás na história: vai doer muito e creio que seria necessário outro espaço aqui na Wilifa para falarmos de tudo.


Mas o fato é: mulheres lutam desde que nasceram para conseguirem um lugar de pertencimento. As lutas femininas por equidade de gênero fizeram com que hoje, possamos dizer que estamos começando a colher os frutos de uma nova possibilidade de existência. Quando falamos de um local de não pertencimento, falamos desses espaços de lutas não abrangerem todo mundo também.


E ser mulher é lidar com esse entendimento de o que eu sou, com o que esperam de mim, mais o que eu quero para mim. Natália é especialista em Colorismo. Em suas Rodas de Conversa sobre Colorismo , é construído um espaço seguro para que as mulheres pretas se escutem e dialoguem sobre esse lugar de não pertencimento em que são colocadas. Em 2020, fiz uma postagem no Canto Baobá dizendo que 52,52% das mulheres pretas vivem em celibato definitivo. É porque mesmo após 133 anos da abolição da escravidão, são se criaram mudanças nas estruturas de poder. O racismo estrutural faz com que as mulheres pretas sejam vítimas desse não pertencimento que atravessa esses corpos de diversas maneiras.


O não pertencimento do cabelo. Da cor de sua pele. De poder amar e ser amada. Da própria autoestima. Do seu lugar de prestígio. E com tantas pressões e opressões históricas, culturais e sociais:


Qual é o lugar desse não pertencimento às próprias conquistas?


Sempre costumo falar de espaços de cuidado. É da minha profissão escrever sobre dores e sobre cuidados. O fortalecimento da mulher preta é essencial para que ela compreenda todas essas estruturas de poder que a oprime e, a partir disso, construir formas de se manter forte. O cuidado pode vir por meio de uma rede de apoio, rodas de conversas, estudos, psicoterapia e demais formas que você se sinta confortável.


Hoje, a Natália me pediu para que eu escrevesse um texto sobre a Síndrome da Impostora. Mas eu queria dizer que são tantas questões tão mais profundas, baseada na supremacia de uma raça sob a outra, que a mulher preta não se encaixa nesse lugar de impostora de si mesma.


Ela é empurrada.



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Juliana Ribeiro é jornalista de formação, fotógrafa, videomaker e social media. É responsável pelas Mídias Sociais, Assessoria de Imprensa, Parcerias Empresariais e todos os conteúdos divulgados pelo Canto Baobá Psicologia. Seus estudos são voltados para raça, gênero, orientação sexual e classe social. E faz psicoterapia!






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