No livro da falecida escritora e pesquisadora bell hooks, encontramos motivação para escrever sobre um tema muito importante para a população negra, mas que é quase sempre esquecido entre um ou outro debate acalorado: O amor; amor, fora de padrões românticos, para muito além de relacionamentos amorosos românticos. O amor como uma troca enriquecedora onde duas (ou mais) sentem a vontade de se empenhar ao máximo para promover o crescimento e o desenvolvimento mútuo. Mas não só isso.
Para abraçar esta obra atemporal de bell, precisamos aceitar o chamado que ela faz, nos convidando a desassociar “amor” do romance. Acolher os ensinamentos desse livro significa desmistificar o amor como apenas romance, entendendo que, inclusive, para viver o romance, o amor precisa ser vivido plenamente na família, dentro de si mesma, entre amigos, etc.
“Tudo sobre o Amor” é sobre como, na vida entre os nossos iguais e diferentes, não aprendemos a amar, ou amamos errado, e todas as grandes e pequenas coisas que perdemos no caminho por isso, como o autoconhecimento, nosso “eu político”, a confiança, a nossa moral e ética, nosso compromisso, nossa espiritualidade, nossas bagagens ancestrais e muitas (infelizmente) outras coisas.
Como pessoas negras, as consequências dessas perdas são cicatrizes que são passadas de geração em geração, e nós sabemos disso porque somos, afinal de contas, muitas vezes, o resultado da falta de amor pleno, consciente e leve, que nossos pais e avós viveram. É difícil amar quando estamos lutando para sermos compreendidos como seres humanos com dores e fraquezas, vulneráveis a um sistema que está contra nós. É difícil se demonstrar sentimental quando nos cobram o tempo todo para sermos fortes e duros, se não os becos nos engolem. É difícil experimentar amor quando estão o tempo todo nos resumindo a um fetiche, ou vendo nossos corpos como algo oco e não atraente.
É difícil, mas bell diz que não é impossível. Não como uma maneira de nos motivar a tornar o amor romântico um objetivo, mas sim nos dizendo que somos dignos disso. Isso nos empodera quanto grupo social.
Não é preciso se quer finalizar o livro para entender que bell, coberta de uma razão e coerência arrebatadoras, defende o amor como um ato político pela cura de todos como sociedade, mas muito longe de um discurso que flerta com o neoliberalismo de que todos os problemas serão resolvidos se nos amarmos e cantarmos “Heal The World”. Amar é um ato político para bell porque quando se está à margem da sociedade e se faz parte de recortes de maiorias sociais que são minorizadas, o amor não é visto como uma possibilidade. Muitas vezes, acreditamos que a solidão é o único caminho possível; ou você nunca viu a sua amiga, que em tão pouco tempo de vida, já experienciou tantos efeitos da solidão da mulher negra, que simplesmente diz que não consegue ver como possibilidade uma realidade onde ela é amada por alguém? Talvez você seja essa amiga.
É por isso que ela nos convida a olharmos para nós e nos amarmos: se você não ama sua cor, seus traços, sua personalidade e sua história, como você vai amar quem se parece com você?
Para finalizar, esse livro é uma leitura obrigatória para você que chegou até aqui porque não estamos falando de um livro academicista, ele é quase uma leitura filosófica em prosa que nos mostra como a nossa sociedade é carente de amor, para muito além de amores arrebatadores; mas amores que acolhem e nos fazem, legitimamente, olhar um para os outros com zelo, porque se não temos amor, nós também não temos justiça. Nada nos motiva a ela e, em uma sociedade tão desigual, isso faz falta.
Além de ler o livro, nós te convidamos para fazer mais reflexões sobre amor e negritude no nosso Instagram (wilifa.br) durante os próximos dias. Siga e compartilhe os seus pensamentos conosco, porque te esperamos por lá para isso.
Terminei hoje essa leitura!Compreendo o amor como resistência e como ação intencional!