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REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE IDENTIDADE RACIAL - POR CLAUDIA GUIMARÃES

O processo de identidade racial está atrelado à saúde mental da população negra de forma tão sutil que muitas vezes não nos damos conta desta relação.




Desde crianças somos bombardeados de informações, muitas vezes imperceptíveis, que nos fazem acreditar que tudo o que está vinculado ao branco é belo, bom e limpo e na mesma proporção, tudo o que está vinculado ao preto e/ou negro é feio, ruim e sujo.


Pergunto-me quantas vezes, quando crianças, recebemos elogios pelos nossos cabelos crespos, cacheados ou trançados, seja em casa, na escola, na casa de algum familiar ou no parquinho em que brincamos, quantas professoras elogiaram nossos desenhos, quantas bonecas pretas ganhamos em nossa infância, quantos coleguinhas deixaram de dividir o lanche conosco para que não puséssemos nossas mãozinhas pretas em suas lancheiras ou quantas vezes fomos deixados de fora de uma brincadeira?


É nítido que desde muito pequenos somos preteridos e preteridas e fomos aprendendo a odiar a cor da nossa pele, nossos traços, nossos cabelos afros. E quantas crianças pretas, em pleno século 21, já expressaram o desejo de ter olhos verdes, cabelos lisos, a pele clara?


É desumano pensar que ainda muito cedo, crianças negras carregam o peso do racismo e isso influencia diretamente em sua autoestima, fazendo não apenas com que ela se odeie, mas também que odeie os seus iguais. Carregamos o estigma de sermos negros e negras e essa marca nos acompanha durante toda a infância, perpetua-se por nossa adolescência e quando nos damos conta, somos homens e mulheres pretos e pretas que não se reconhecem como pessoas dignas de serem amadas, que não ama a si mesma, que tem dificuldades em construir relacionamentos saudáveis, sejam afetivos ou sociais, por que em algum momento faltou o amor próprio.


Por muito tempo nossa negritude foi desprezada através do racismo velado, fomos chamados de morenos, pardos, mulatos, até de caramelo ou de marrom bombom, mas nunca de pretos/as ou negros/as, pois eram considerados uma “ofensa” ou “xingamento”.

Com o fortalecimento do movimento negro, muitos de nós pretos e pretas, sejam de pela clara ou escura, temos nos conscientizado que somos sujeitos de direito, somos negros e negras com orgulho da nossa história, da nossa cor, dos nossos cabelos e principalmente da nossa luta.


No entanto, esse processo de reconhecer a própria negritude não foi e não é fácil, muito pelo contrário, se perceber negro e negra, é um caminho, muitas vezes doloroso e solitário. Ver a beleza negra em um país onde o homem negro e a mulher negra são sempre retratados como pessoas sem valor intelectual, sem status social e como objeto sexual traz um adoecimento psíquico para a população negra, que podem deixar cicatrizes profundas em nossa alma.


É cruel sabermos que temos a responsabilidade de curar as feridas e mudar o que fizeram conosco e o que fizeram de nós, mas infelizmente essa é nossa realidade e devemos fortalecer uns aos outros todos os dias, a fim de tomarmos posse da nossa negritude com o devido orgulho. Posto isso, acredito ser de extrema importância que nós adultos, sejam pais, tios e tias, avós, madrinhas e padrinhos, professores etc., tomarmos a responsabilidade de criarmos e educarmos nossas crianças pretas para que sejam saudáveis não apenas fisicamente, mas principalmente emocionalmente, mas vamos deixar para falar sobre isso em outro momento...


Texto escrito por Cláudia Guimarães, psicóloga em formação, apaixonada por basquete, amantes de bons livros e chocólatra mesmo sendo intolerante a lactose!

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