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Mercado de trabalho, raça e classe; não temos muito a comemorar, mas temos muito a reivindicar.


Histórias de superação são ótimas para entretenimento, mas, muitas vezes, nos fazem esquecer de onde estamos e de como as coisas realmente funcionam quando falamos sobre mobilidade social no Brasil, principalmente quando ela é fruto de um sucesso profissional. Um país com tantas cicatrizes históricas e uma dívida social e financeira nunca paga a povos injustiçados daqui não podia ter um destino diferente se não o da desigualdade social em todas as camadas possíveis, somada a violência que, em vários níveis, funciona como um agente de manutenção dessa realidade.


Não importa que o mito do paraíso racial seja repetido no boca a boca, a realidade é que pessoas brancas e não brancas não ocupam o mesmo espaço no mercado de trabalho. Dados vindos do IBGE analisados no ano de 2020, por exemplo, mostram que essa diferença também aparece nos níveis de desemprego e na renda. Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realizada na época da pandemia, pessoas não brancas representavam 71,2% na taxa de desocupação.


A realidade mudou em 2023, uma vez que outra pesquisa do mesmo instituto datou que, naquele ano, representávamos  54,2% da população empregada no país, mas não se engane. Nós enfrentamos dificuldades para sermos empregados, mas, mais que isso, quando somos ainda sim enfrentamos uma série de dificuldades para nos mantermos nos nossos empregos que, na maioria das vezes, são subempregos. Pessoas negras estão, ainda hoje, quase extintas em cadeiras de liderança e nós ainda encontramos dificuldades para sermos contratados em trabalhos qualificados.


A mesma pesquisa de 2023 apontou que a população negra tem maior proporção em serviços domésticos (66,4%), construção (65,1%), agropecuária (62%) e transporte, armazenagem e correio (57%). O motivo para isso acontecer talvez seja apontado em outro estudo, uma vez que dados colhidos pela consultoria IDados indicaram que, quando formadas, pessoas negras enfrentam mais dificuldade para atuar na carreira cursada no ensino superior e, por isso, acabam exercendo ocupações de qualificação inferior.


Esse texto não foi escrito para dizer que APENAS pessoas negras sofrem nesse sistema desigual e dificultoso que permeia o trabalho no capitalismo, mas ignorar os fatos trazidos para mesa nessa matéria nos impede de debater por lentes que realmente enxergam o problema. Foram sabias as palavras quando, em uma matéria no site CartaCapital, a advogada e mestranda em Ciências do Trabalho, Camila Moura de Carvalho, disse que a branquitude constitui um bem jurídico que confere ao seu detentor um conjunto de direitos. Dizer isso é deixar claro que quem faz parte da branquitude, ciente ou não disso, desfruta de uma série de vantagens sociais, tanto na esfera pública quanto nos espaços privados, enquanto essas vantagens são negadas a pessoas não-brancas.


Nesse mundo, mesmo que se pudéssemos estalar os dedos e fazer de todas as pessoas negras empregadas em ambientes povoados por ideais e filosofias firmadas na branquitude, ainda teríamos MUITO trabalho para lutar contra a violência que acontece quando empresas acham que estão dizendo sim para inclusão e equidade contratando pessoas negras, mas não tornam aquela pessoa negra parte do ambiente e parte da equipe, a fazendo se sentir sempre um estranho no ninho. O resultado disso são as micro violências que nos fazem mudar nosso cabelo, negar nossos traços, termos nossas opiniões ignoradas, recebermos menos ou sermos resumidos a um token de diversidade.


Mudar essa realidade é um trabalho árduo, que parece impossível, e que realmente fica quando desconhecemos nossos poderes. É preciso nos organizarmos, darmos valor a sindicatos e estarmos munidos de conhecimento para estarmos aptos a criação de mais direitos e a revogar os direitos que já temos.


A comodidade nos posiciona mais longe de uma realidade mais dócil, trabalhadores negros. É nosso papel cobrar por empresas e uma sociedade feita com mais equidade.

Acompanhe nosso Instagram para podermos discutir mais acerca desse tema. Nós te esperamos no @wilifa.br.


Texto escrito por Natasha Santos, redatora na Wilifa


Publicitária, redatora, escritora, compositora e artista independente, Natasha tenta colocar um pouco de si em tudo que escreve (mesmo que nem sempre seja possível; esse é o verdadeiro desafio).

Com seus 5 anos de atuação no mercado publicitário, procura desmistificar temas, facilitando o entendimento de mensagens para quem precisa entendê-las, conectando pessoas e marcas.

Em seus 25 anos, a sergipana se vê fascinada por sons, cores, histórias e a própria história, exaltando tudo que é e tudo que veio antes dela, em um resgate ancestral e, se possível dizer, até justo.


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